Março de 2025 foi o mês dos eventos astrológicos, não? E toda essa intensidade não podia terminar sem mais um evento. Dia 29/03 teve Eclipse, e dia 30/03 Netuno finalmente troca de signo, indo de Peixes para Áries. Para tratar de um planeta geracional, o ideal é ir por partes. Esse ingresso em Áries identifica o início de um novo ciclo do planeta, que se renova a cada 165 anos. Netuno fica em torno de 14 anos em cada signo, então estamos aí terminando duas coisas: o período de 14 anos, e o ciclo de 165 anos. Netuno vai ficar retrógrado durante o ano (sua retrogradação dura em torno de 150 dias), retorna para Peixes e ano que vem se mudar definitivamente para Áries.
Os trânsitos astrológicos estão bem confusos agora, porque estamos em um vai e vem. O momento só será compreendido em perspectiva de média duração, considerando 2024 até 2027. Por que 2024? Plutão entrou definitivamente em Aquário nesse ano, começamos 2025 com a transição de Netuno e Urano de signos, e ambos permanecem definitivamente em novos signos a partir de 2026. A confusão está para além das retrogradações de Vênus e Mercúrio do momento; estamos aí enfrentando uma mudança importante, daquelas que marcam uma geração. É preciso salientar que Plutão foi para um signo de Ar, assim como Urano fará no futuro; e com Netuno em signo de fogo, teremos aí ângulos benéficos entre esses três planetas. Como todos são lentos, esses ângulos se mantém fortes pelos próximos anos. Teremos lá na frente um trígono exato de Ar entre Urano e Plutão. Já imaginou?
Eu sempre saliento que “ângulo benéfico” significa passagem facilitada e direta de energia de um ponto para o outro, e que a palavra “benéfica” não é sinônimo de “bom, positivo, legal”. Acho que a história já nos demonstrou que quando temos escolhas, é comum a humanidade escolher a pior alternativa. Veremos aí muitas mudanças, e podemos sim ter esperanças de esperar pelo melhor, mas o ideal é ser pelo menos um pouco vigilante. Netuno entra em Áries com o Sol já no grau 10 do signo, o que significa que ele fica sob influência do Sol, mas não tão negativo a ponto de estar combusto. O Sol, por ser regente de exaltação de Áries, alimenta imensamente Netuno, então esse começo confuso terá o seu impacto. A percepção de si, o nosso Ego, pode passar por uma transformação. Apesar de Netuno significar névoa, o ingresso demonstra clareza, visão, percepção. Há algo a ser percebido ou demonstrado para nós. Claro, essa demonstração fica nebulosa por conta das retrogradações, em especial a de Mercúrio, que rege a nossa parte mental, racional. Na prática, pode acontecer nas nossas vidas de algo estar sendo demonstrado para nós, mas vivemos em um ambiente com pessoas que negam o que está sendo mostrado, naquela necessidade de acreditar que “tudo vai ficar bem” (mesmo que o “como?” seja algo nunca debatido).
Outro ponto interessante do momento do ingresso é a Lua ainda estar em Áries, em conjunção com Quíron, ao mesmo tempo que Marte permanece em berço esplêndido no signo de Câncer. Lua e Marte estão em dupla recepção, então assim como o nosso Ego pode estar sendo confrontado com elementos externos, o nosso emocional também está no palco com um papel importante a ser desempenhado. Honestamente, não considero o posicionamento de Lua em Áries um dos mais fáceis em um mapa astral. Quando bem desenvolvido, Lua em Áries tem capacidade de liderança nas emoções, abrindo espaço e acolhendo sentimentos que não são os seus. A liderança vem do reconhecimento da necessidade emocional do outro. No entanto, Áries nem sempre desenvolve o seu lado mais positivo. Dentre os problemas de Lua em Áries o principal deles é o não reconhecimento das emoções do outro, agindo – na prática – como se a expressão emocional do outro fosse um ataque direto a nós. Seria aquele tipo de pessoa que é ativa, líder, proativa, mas incapaz de reconhecer seus erros, especialmente se o erro está em ter magoado alguém no meio do caminho de uma grande conquista ou tarefa. Nesse ingresso, acredito que parte do que é apresentado inicialmente está relacionado com a manutenção emocional individual, se ela existe ou não, e quais são as consequências de um Ego que tenta e quer curar a si mesmo ao mesmo tempo que tem dificuldade em assumir seus erros, especialmente quando consideramos erros de mágoa ou dor. Com a troca entre Lua e Marte, existe uma conversa séria e ativa sobre a iniciativa individual para a busca da própria segurança emocional. Esse tema está muito forte, já que também é um dos temas do Eclipse Solar de 29/03/2025.
Os problemas aparecem a partir das nuances da vida. Netuno tem essa tendência a trazer uma névoa para as coisa, mas em Áries a névoa pode ficar bem fina, e a nossa capacidade de acordar aumenta. A primeira ideia é buscar a cura individual (Lua e Quíron) a partir de uma nova percepção do próprio Ego frente aos desafios que se apresentaram. Houve algum confronto ou choque de realidade, e a partir disso, o Ego precisa se rearranjar. Como isso acontece é um campo aberto em disputa, e cada individualidade responde às demandas da vida de maneiras diversas dependendo das ferramentas emocionais que temos. Alguns experimentam uma crise que leva a uma reflexão de si. Para refletir sobre si, precisa haver questionamento, e alguma percepção de que nem tudo que fizemos foi o “certo” e que ainda temos espaço para amadurecer. “Certo” é bem entre aspas viu? Para se questionar é preciso de um espaço de dúvida. Estou falando isso porque uma energia de Áries muito forte pode interpretar um questionamento forte sobre si mesmo como uma ameaça, quase que física. E a reação a isso pode ser o ataque.
Um exemplo do todo para entender o individual
Os Eclipses nos eixos Áries-Libra que terminaram agora marcaram o genocídio palestino, já que os ataques começaram apenas 7 dias antes de um Eclipse Solar em Libra em 2023. Acredito que olhando contextos macro estruturais ajuda a entender significados que podem aparecer para nós em escalas bem menores. Estamos assistindo desde 2023 um ato brutal de limpeza étnica contra um grupo social que já sofria com deslocamentos em massa e falta de reconhecimento de sua identidade individual em termos de comunidade internacional5. Na narrativa dominante, se você busca no google como esse conflito começou, você irá apenas encontrar como o Hamas atacou e Israel e desencadeou o conflito. Agora, em 2025, sabendo quem é o presidente dos EUA e como esses novos ataques de Israel a Palestina dentro do período de cessar fogo e Hamadan, e com a clara intenção dos EUA de provocar uma guerra em larga escala em alguma parte do mundo, podemos nos perguntar:
É legítimo exterminar um povo se baseando no fato de que “ele atacou primeiro”?
Esse questionamento é importante dentro da simbologia de Áries. Signo regido pelo maléfico Marte, não é incomum esse arquétipo ser do estilo “atacar primeiro, questionar depois”. O ataque sentido por Áries é sempre ameaçador, porque ataca a essência da vida (Sol, regente de exaltação de Áries), e também a nossa capacidade de reação (Marte, regente de domicílio de Áries). O ponto principal que quero salientar é a discrepância entre ação e reação. Áries às vezes não mede o peso da mão quando ataca, especialmente quando de maneira inconsciente está operando da lógica de “eu precisei atacar, porque se não eu ia morrer”.
Quem já conviveu com uma Lua em Áries não muito bem desenvolvida sabe que a violência é mais simbólica do que física. Quando se sentem atacados, alguns nativos reagem ignorando por completo uma pessoa, relação ou parte da realidade concreta da vida. Mesmo que a pessoa ignorada seja filho, pai, mãe, companheiro ou melhor amigo. Esse ignorar é seguido de uma série de ações que a pessoa toma, desconsiderando a existência de quem o ameaçou por completo.
Olhando de fora, pode parecer nada. Pode até parecer que a relação tem salvação. Mas existe relação com alguém que te cortou de um jeito que parece que você nunca existiu (depois de anos de convívio, amor, relação)?
O dilema em termos menores pode ser: eu preciso destruir em nome de me sentir seguro? O meu contato com a realidade concreta está legal? Estou tentando negar algo que a vida insiste em me mostrar, mas em corpos, relações ou situações diferentes? Quando alguém fala pra mim como se sente, eu me sinto atacado? Ou eu consigo entender que talvez aquela vida ali que se mostra magoada é válida de ser reconhecida?
Netuno em Áries entra com esse dilema: Eu sou um Líder, ou eu sou Tirano?
